Uma ação quase automática quando pegamos um livro pela primeira vez é abrir suas capas e ler o que as orelhas nos dizem sobre seu conteúdo e autor.
Em "Promessas do Genoma" as orelhas do livro nos induzem a uma pergunta: o que faz um cientista social nesta seara que deveria ser território exclusivo dos especialistas da biologia molecular e afins?
A resposta vem ao longo dos quatro capítulos da obra, na qual Marcelo Leite levanta o histórico do Projeto Genoma Humano (PGH), amplamente divulgado como a odisséia científica que revelaria o Livro da Vida através do seqüenciamento completo das letras do DNA de nossa espécie - A,T,C e G, iniciais das bases adenina, timina, citosina e guanina que se organizam nos cromossomos dos seres vivos para formar seu material genético.
Deixando para trás a euforia generalizada presente nas matérias de divulgação científica para o grande público, Marcelo Leite mergulha fundo nos artigos das revistas "Science" e "Nature" e, apoiado por ampla bibliografia de referência, constrói uma crítica consistente sobre a distância entre as expectativas criadas e os resultados efetivos do PGH até o momento.
As promessas do Genoma que dão título ao livro teriam ficado em sua maior parte nisto, na promessa, sem se tornar a "maravilhosa nova arma em nossa luta contra a doença" ou "a bola de cristal biológica que adivinhará o destino genético de todos nós" como esperavam alguns de seus entusiastas.
O que poderia ser uma grande decepção, pelo ponto de vista do autor, pode ser interpretado como uma oportunidade de reflexão, dado que a visão inicial dominante do PGH era o determinismo genético, a crença que os genes, por si só, comandariam tudo que ocorre em um organismo, a ponto de, segundo alguns deterministas, a própria natureza humana estar inscrita no genoma.
O livro se bate contra este determinismo, apontando nas fontes especializadas as informações oriundas do próprio PGH que falam contra esta auto-suficiência dos genes e destacando a importância das interações com o ambiente para a formação e desenvolvimento da vida, nos quais os genes teriam seu papel, mas não seriam os únicos atores.
No desenvolvimento dessa abordagem, a ciências sociais são tomadas como referência para resgatar a ciência natural, particularmente no caso a biologia, das limitações que lhe teriam sido impostas pela técnica, que teria restringido a investigação científica às possibilidades passíveis de verificação instrumental, deixando de lado todas as possibilidades cuja confirmação empírica exigisse procedimentos distintos do padrão de controle tecnológico adotado.
Ao final do livro, é possível que alguns leitores critiquem a impaciência do autor, lembrando que muitas descobertas só revelam seu potencial de realização no longo prazo, como a trigonometria dos filósofos gregos, hoje usada no cálculo das senóides elétricas que alimentam os transistores integrados dos computadores eletrônicos.
Outros, talvez, vejam os comentários do autor como um transpassar indevido das fronteiras de especialidades científicas, entendendo que biologia e sociologia estão mais distantes entre si como ramos do conhecimento do que o autor possa ter sugerido.
Seja qual for sua posição, o leitor, ao final, terá a resposta à pergunta feita pela orelha do livro. Marcelo Leite invade a seara dos geneticistas para propor o debate. E o debate é sempre saudável para todas as áreas do conhecimento, não importa sob que denominação sejam apresentadas.
Em "Promessas do Genoma" as orelhas do livro nos induzem a uma pergunta: o que faz um cientista social nesta seara que deveria ser território exclusivo dos especialistas da biologia molecular e afins?
A resposta vem ao longo dos quatro capítulos da obra, na qual Marcelo Leite levanta o histórico do Projeto Genoma Humano (PGH), amplamente divulgado como a odisséia científica que revelaria o Livro da Vida através do seqüenciamento completo das letras do DNA de nossa espécie - A,T,C e G, iniciais das bases adenina, timina, citosina e guanina que se organizam nos cromossomos dos seres vivos para formar seu material genético.
Deixando para trás a euforia generalizada presente nas matérias de divulgação científica para o grande público, Marcelo Leite mergulha fundo nos artigos das revistas "Science" e "Nature" e, apoiado por ampla bibliografia de referência, constrói uma crítica consistente sobre a distância entre as expectativas criadas e os resultados efetivos do PGH até o momento.
As promessas do Genoma que dão título ao livro teriam ficado em sua maior parte nisto, na promessa, sem se tornar a "maravilhosa nova arma em nossa luta contra a doença" ou "a bola de cristal biológica que adivinhará o destino genético de todos nós" como esperavam alguns de seus entusiastas.
O que poderia ser uma grande decepção, pelo ponto de vista do autor, pode ser interpretado como uma oportunidade de reflexão, dado que a visão inicial dominante do PGH era o determinismo genético, a crença que os genes, por si só, comandariam tudo que ocorre em um organismo, a ponto de, segundo alguns deterministas, a própria natureza humana estar inscrita no genoma.
O livro se bate contra este determinismo, apontando nas fontes especializadas as informações oriundas do próprio PGH que falam contra esta auto-suficiência dos genes e destacando a importância das interações com o ambiente para a formação e desenvolvimento da vida, nos quais os genes teriam seu papel, mas não seriam os únicos atores.
No desenvolvimento dessa abordagem, a ciências sociais são tomadas como referência para resgatar a ciência natural, particularmente no caso a biologia, das limitações que lhe teriam sido impostas pela técnica, que teria restringido a investigação científica às possibilidades passíveis de verificação instrumental, deixando de lado todas as possibilidades cuja confirmação empírica exigisse procedimentos distintos do padrão de controle tecnológico adotado.
Ao final do livro, é possível que alguns leitores critiquem a impaciência do autor, lembrando que muitas descobertas só revelam seu potencial de realização no longo prazo, como a trigonometria dos filósofos gregos, hoje usada no cálculo das senóides elétricas que alimentam os transistores integrados dos computadores eletrônicos.
Outros, talvez, vejam os comentários do autor como um transpassar indevido das fronteiras de especialidades científicas, entendendo que biologia e sociologia estão mais distantes entre si como ramos do conhecimento do que o autor possa ter sugerido.
Seja qual for sua posição, o leitor, ao final, terá a resposta à pergunta feita pela orelha do livro. Marcelo Leite invade a seara dos geneticistas para propor o debate. E o debate é sempre saudável para todas as áreas do conhecimento, não importa sob que denominação sejam apresentadas.
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Promessas do Genoma
Marcelo Leite
Editora Unesp243 págs.
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