quarta-feira, 18 de novembro de 2009

SABER CIÊNCIAS, DIREITO E DEVER...

O conhecimento sobre a área e suas tecnologias tornou-se tão essencial na aventura humana que ninguém mais pode ser privado dele.
Vivemos numa época em que tudo depende do conhecimento científico. Dos alimentos às roupas, dos medicamentos aos transportes, da comunicação ao entretenimento, tudo passa pelas Ciências e pelas tecnologias a elas associadas. Fundadas em argumentos lógicos e verificações experimentais, elas nos permitiram superar um tempo de mitos e crendices, cuja graça lembramos em velhos rituais, mas cujas desgraças não queremos reviver em privações e pestes. Por isso, na Educação escolar, as Ciências devem ser pensadas como um equipamento essencial à vida e não como uma admiração passiva da "Ciência dos cientistas". Quem desconhece a radiação que aciona, a fibra que veste, a proteína que come e o analgésico que toma também não sabe quando a vida surgiu e como evoluiu ou que a estrela-dalva é o planeta Vênus, cuja luz refletida nos alcança em minutos, enquanto o brilho da estrela mais próxima leva anos para chegar aqui. Também desconhece que as Ciências não são feitas de verdades eternas. Por dependerem do permanente direito à dúvida, são adversárias de sectarismos, superstições e preconceitos.
As crianças e os jovens precisam ser apresentados ao mundo - que já encontram tão complexo - e essa introdução é incompleta sem as Ciências. Mas como ensinar, em poucos anos, saberes conseguidos em séculos? E como pode um professor fazer isso se ele mesmo reconhece suas limitações? Comecemos por assegurar que bons professores não precisam ter todas as respostas, mas estimular, acolher e encaminhar todas as perguntas. Claro que também é preciso ensinar. Mas o quê, e com que ênfase? A escola pode e deve apresentar seus alunos às Ciências como linguagem, como instrumental prático e como visão de mundo, dando um tratamento diferente a essas três dimensões em cada etapa da formação. Na Educação Infantil, as crianças começam a denominar e a qualificar objetos e processos de vivência imediata - nessa fase, a investigação também é lúdica. O corpo, os bichos, os veículos, as florestas, os rios e as ruas são personagens e cenários de suas fantasias, seus desenhos e seus textos. Os pequenos colecionam e classificam folhas, insetos e parafusos e começam a estabelecer conexões causais e práticas. Para que serve a higiene? Por que os pássaros fazem ninhos? Qual a relação entre nuvens e chuva? Já a compreensão de ciclos naturais e seu aproveitamento energético, de equipamentos mecânicos e eletrônicos e sua forma operativa e de matérias-primas e processos produtivos exige maturidade maior - assim como o entendimento mais amplo da sexualidade só faz sentido ao se aproximar a puberdade, numa combinação de aspectos afetivos e éticos com os científicos. Finalmente, quando os adolescentes se preparam para o mundo dos adultos, pode-se apresentar as Ciências com estrutura mais formal: as tecnologias de forma mais abstrata, as substâncias decompostas em elementos da tabela periódica, o Universo descortinado em galáxias se afastando e as espécies como um processo evolutivo, em que a biodiversidade é ameaçada pela intervenção humana reforçada pelas Ciências, mas ao mesmo tempo também vigiada por elas. Por serem tão significativas na aventura humana, é indiscutível que as Ciências e suas técnicas devem ter presença garantida na formação escolar, ao lado das letras, das humanidades e das artes. Os jovens utilizam com naturalidade equipamentos de alta tecnologia e acompanham noticiários sobre avanços nas fronteiras do conhecimento. A escola pode ir além. Cabe a ela transcender essa cultura de consumo, de produtos ou de informação, promovendo uma cultura científica prática, ética e crítica. Quando isso acontece, também os professores se beneficiam e seguem aprendendo.
Luiz Carlos de Menezes.
Fonte: revista nova escola (edição 224)